20 de maio de 2012

Gotham City* e o seu submundo dos anos 70 e 80

Nova Iorque tem várias facetas, e aqui mostrarei um conjunto de fotos de Nova Iorque de antigamente, mais precisamente a Nova Iorque dos tempos citado acima. Uma Nova Iorque que abriga imigrantes irlandeses, judeus, italianos, jamaicanos, mexicanos, indianos, filipinos, vietnamitas, porto-riquenhos equatorianos, colombianos, coreanos, haitianos entre outros. Assim como em Los Angeles, existe em Nova Iorque 6 Chinatowns (o início da cidade de Nova Iorque, o distrito de onde se começou a se construir a cidade).

Uma cidade de antagonismos marcantes e ao mesmo tempo não excludentes entre si. Uma verdadeira metrópole com prédios gigantescos ao lado do Central Park, uma enorme área verde de 4km de comprimento por 800m de largura. Mas não somente o Central Park, como: Riverside Park, Battery Park, Prospect Park, Corona Park e Forest Park.

Nos anos 80 e 90 houve um surto de criminalidade na cidade de Nova Iorque, pela presença constante da entrada do crack por vias ilegais e também por causa de gangues. Mas voltando uns anos antes, Nova Iorque sofreu a partir de 1931 a influência das Máfias, principalmente de cinco que dominavam a cidade: a Família Bonanno, que atuava no Brooklyn, Queens, Staten Island e Long Island; a Família Colombo, que atuava no Brooklyn, Queens e Long Island; a Família Gambino, que atuava no Brooklyn, Queens, Manhattan, Staten Island e Long Island; a Família Genovese, que atuava em Manhattan, Bronx, Brooklyn e Nova Jersey; e, a Família Lucchese, que agia no Bronx, Manhattan, Brooklyn e Nova Jersey. Porém ambas com influências em outras cidades dos Estados Unidos da América.

A cidade de Nova Iorque é a cidade mais multicultural do Estados Unidos, abrigando muitas etnias. É a segunda cidade que mais recebe imigrantes, vindo em primeiro Los Angeles.

Nova Iorque possui um sistema de transportes variado, em que a população faz uso diariamente de bicicletas, carros, táxis, ônibus, ferries (balsas que levam pessoas e carros), helicópteros e de uma malha metroviária extensa. Falando em particular do metrô, o sistema é administrado pela New York City Transit Authority, onde suas linhas têm 368km de extensão e 468 estações, funcionam 24 horas por dia durante os 7 dias da semana. Se compararmos com o sistema de transporte de Los Angeles, é muitas vezes superior, pois Los Angeles tem o carro como a base de locomoção da cidade, o que deixa evidente que as linhas de transporte de ônibus não apresentam uma qualidade que se é desejável.

Abaixo, um lance de fotos que retratam a vida novaiorquina dos anos 70 e 80. De uma cidade de outrora suja, real, intensa, com vida, de várias tribos, de céu cinzento por vezes, de vagões pixados. O lado underground da cidade.

Vagão grafitado, no começo dos anos 80.

6th Avenue, provavelmente nos anos 80.

Final dos anos 80.

Freira lendo "Pipoco no Papa" no New York Post.

1981

Vagões grafitados nos anos 80.

Policial e seu pastor alemão em túnel de uma estação, anos 80.

Em Deus confiamos, em Trens, bombamos. Começo dos anos 80.

Um bêbado em dia de Halloween. 1981.

Cantor animando a viagem.

Central Park em 1987.

Vagões corroídos pela ação do tempo. 1981.

Anos 80.

Fotografia em perspectiva. Retrata bem a realidade daqueles velhos tempos.

Placas publicitárias. 1977

World Trade Center ao fundo. Década de 80.

Porta fechando. 1980.

Kenny's Broome Street Bar, provavelmente 1977.

Outro trem, passando por cima da cidade.

Interior do vagão.

Pessoas se espremendo no vagão. 1981.

Fumando no metrô!! Anos 80.

Agora batendo um rango. Percebe-se nesta foto a diversidade
cultural e de etnias reunidas usando um mesmo meio de
transporte em Nova Iorque.

World Trade Center nos anos 70.

Se quiserem ver mais fotos sobre a história do metrô em Nova Iorque, o New York Times publicou uma série de fotos sobre isto. Para acessar, clique aqui.

19 de maio de 2012

East Los Angeles, reduto de etnias.

Los Angeles foi fundada em 4 de setembro de 1781, pelo governador espanhol Felipe de Neve como El  Pueblo de Nuestra Señora la Reina de los Angeles del Río de Porciúncula. O governador espanhol da Califórnia enviou soldados que ofereceriam dinheiro, terras, animais e equipamentos para aqueles que se dispusessem a colonizar a região. Entre as pessoas que foram morar na Califórnia, encontravam-se alguns poucos espanhóis, uns indígenas e a maioria de africanos.

Com a independência do México em 1821, o estado da Califórnia, em que Los Angeles faz parte, torna-se posse dos mexicanos. Em seguida aos espanhóis, os americanos em 1841 começaram a morar na cidade. Mesmo assim os espanhóis ainda eram a maioria.

De 1846-1848, o México se envolve em uma guerra contra os Estados Unidos e perde com isso os territórios da Califórnia, o Novo México e o Arizona, pelo Tratado de Guadalupe Hidalgo, mantendo o território da Baixa Califórnia. Em 4 de abril de 1850, Los Angeles ganha o status de cidade, e cinco meses depois, a Califórnia torna-se o 31º estado dos Estados Unidos.

A tão famosa Chinatown dos cinemas estado-unidense, como exemplo a exibida no filme "Chinatown" com Jack Nicholson (me recuso a chamá-los de americanos, pois todos somos e não só eles como eles vêem essa situação; nem norte-americanos pois este termo designa os 3 países da América do Norte), sofre uma revolta popular em 1871, devido a uma briga entre duas gangues chineses onde um branco morre e resulta ao final de tudo na briga entre entre alguns brancos revoltosos com a morte de seu similar e casas e comércios assaltados.

Já em 1920, os políticos de Los Angeles criaram uma lei que restringia a compra de casas para afro-americanos, mexicanos, asiáticos e judeus, somente autorizando a moradia destes em determinados bairros.

Los Angeles se expandiu com a anexação de cidades vizinhas como Hollywood, San Pedro, Van Nuys e Westwood entre as décadas de 1950 e 1990, que hoje são distritos da cidade.

Dentre as várias etnias que existem na cidade, encontram-se: armênios, cambojianos, filipinos, guatemaltecos, israelenses, tailandeses, mexicanos, húngaros e salvadorenhos. Advindos de constantes imigrações.

East Los Angeles, uma região da cidade de L.A., possui ruas largas, poucos prédios, monumentos, pontos turísticos como El Alisal e localidades retratadas em filmes, como El Pino, no filme Blood in Blood Out. O filme Boulevard Nights, ou em músicos à exemplo de Kid Frost.

Abaixo segue algumas imagens de murais grafitados pelas ruas de East Los Angeles, mostrando o orgulho das origens desses povos (etnias) que aí vivem em relação ao local de onde vieram:

La Pared Que Habla, Canta y Grita: Pintura de Paul Botello, com apoio de Adalberto Ortiz, Gerardo Herrera e Gustavo Sanchez. Um protesto ao assassinato de um jornalista mexicano, por um policial durante a passeata National Chicano Moratorium March, contra a Guerra do Vietnã, em 1970.


Jobs Not Jails: Mais empregos, menos cadeias. Mural da Homeboy Industries, que ajuda à comunidade na criação de mais empregos.


Together: Pintura de Christina Miguel, com apoio da East-West Community. Faz homenagem à imigração chinesa aos Estados Unidos, e às dificuldades enfrentadas por aquele povo.


Cultural Identity Indicating Time in Perpetual Movement: Pintura de Eloy Torrez, fazendo homenagem às maiores figuras mexicanas e chicanas, fundamentais no processo de consolidação do México enquanto identidade cultural.


Nesta pintura à parte quero fazer uma observação. Desde o tempo da Revolução Mexicana, Pancho Villa, outro líder revolucionário assim como Zapata, fez muito pela revolução. Mas as autoridades mexicanas fizeram com que ele caísse no esquecimento, então por muitos anos não se encontravam nas ruas monumentos, imagens ou citações falando a respeito de Pancho Villa. Hoje em dia a imagem dele está sendo reconstruída, estão buscando saber mais a fundo quem foi exatamente Pancho Villa, não o que ele fez, mas quem realmente ele era, qual sua personalidade, se estava engajado mesmo na revolução ou se só estava buscando mérito pessoal ou se experiência militar de combate. Fato é que suas ações foram muito mais relevantes para o México do que as de Francisco Madero, que só foi o iniciador da revolução, em que buscou interesses próprios, como na maioria das vezes, vários interesses políticos apresentam interesses econômicos. Incrível me parece o fato de Pancho Villa não ter tido um espaço ao menos pequeno na pintura de Eloy Torrez. Será mesmo que anos depois da revolução, ele não merecia ao menos ser lembrado com uma singela homenagem a sua pessoa por Torrez?

Ghosts of The Barrio: Pintura de Wayne Healy, retratando os "homies" acompanhados de seus ancestrais culturais, tais quais o Azteca, o Conquistador e o Mestizo.


Untitled: Graffiti pintado por Vyal, Retna, Werc e Kofie em 2008.


Um dos clássicos de East Los Angeles, é o mural pintado por Paul J. Botello, em 1991. Retrata o caos urbano da vida, começando nas balas perdidas atingindo meros esqueletos (mortos) na ponta esquerda, indo ao centro (Nossa Senhora de Guadalupe) e à direita, onde está a esperança da população.


Homenagem aos mestres mexicanos, feito em 2004.

13 de maio de 2012

A Firma 1989: Claque do FK Vojvodina da Sérvia


O FK Vojvodina foi fundado secretamente no dia 6 de março de 1914, em um apartamento localizado na rua Temerinska, nº 12 na cidade de Novi Sad, que faz parte da região de Vojvodina, um condado autônomo da Sérvia, uma vez que as autoridades Austro-Húngaras aplicavam a censura em qualquer ato organizado, incluindo desportos, na região sul do reino, cuja população era basicamente formada por eslavos, especialmente os sérvios. O primeiro jogo do clube foi uma vitória contra o FK Sajkas, na vila de Kovilj: uma goleada de 5x0. Naquele tempo, o uniforme principal do FK Vojvodina era um azul claro, passando a mudar mais tarde para o tradicional vermelho e branco, inspirado no SK Slavia Prague, um clube de futebol tcheco.


O auge do FK Vojvodina veio nos tempos da República Socialista Federativa da Iugoslávia (SFRY), quando ganhou dois títulos da Primeira Liga Iugoslava, em 1966 e em 1989, além de ter participado de muitas edições da UEFA Cup. Atualmente o clube faz boas campanhas, fazendo frente a grandes clubes como o Red Star Belgrade e o FK Partizan, também de Belgrado, disputando vez ou outra edições da Copa UEFA e da Europa League.

Sua torcida é conhecida como The Firm (A Firma, em português, Firmasi em sérvio). Fundada em 1989, A Firma é uma das cinco maiores claques da Sérvia, contando com cerca de 10000 integrantes ativos, sendo muitos deles, apenas sócios fiéis do FK Vojvodina. Seus membros são conhecidos como Ultras, e não como hooligans em si, pela maneira vibrante de torcer e de defender as cores do seu clube. Em 2011, A Firma fez uma mega ação de doação de sangue, para transfusões nos hospitais da Sérvia, algo raro em se tratando de torcidas, e de extrema honra. Seus subgrupos consistem em algumas difusões, tais quais a G-3, UltraNS, Freaks, Pandora, Backi Odred, entre outras. Mostrando lealdade, honra e um amor absurdamente gigantesco pelo FK Vojvodina, A Firma 1989 se coloca entre uma das grandes torcidas de todo o mundo.

Nos vídeos e fotos abaixo, o registro de um dos grandes derbys do Leste Europeu, captados através dos olhos da torcida do FK Vojvodina, A Firma 1989, na Sérvia. É o jogo contra o FK Partizan, da capital Belgrado, em um dos clássicos regionais daquele país:






Bandeira em homenagem ao Deja Lonac




FK Partizan x FK Vojvodina

Spartak x FK Vojvodina


11 de maio de 2012

Ação Integralista Brasileira (AIB)


O período de 1932 a 1938 foi que se deu a ação da AIB, que correspondeu justamente ao governo de Getúlio Vargas. O contexto político era de crise das oligarquias da República Velha (1889-1930), onde o ambiente foi propício ao surgimento de projetos radicais e mobilizantes que tentaram galvanizar a sociedade com a idéia de mudança, assim como ocorreu na Europa. As principais propostas foram a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que surgiu inspiradas nas Frentes Populares da Europa, que lutavam contra os grupos fascistas e tinham como membros comunistas, socialistas sem partido, democratas radicais e tenentes de esquerda e, a Ação Integralista Brasileira. Ambos eram críticos dos preceitos liberais da República Velha.

A AIB foi fundada em 7 de outubro de 1932 e existiu legalmente até dezembro de 1938. Surgiu de pequenos grupos e partidos de extrema direita, como: Ação Social Brasileira (Partido Nacional Fascista); Legião Cearense do Trabalho, de 1931, dirigida por Severino Sombra; Partido Nacional Sindicalista, de Minas Gerais, fundado por Olbiano de Melo; e o monarquista Ação Imperial Pátrio-novista. Reuniram-se sob a direção de Plínio Salgado e San Tiago Dantas, do jornal A Razão, fundado em 1931, tendo como lema principal "Deus, Pátria e Família", o que revela as ligações com a Igreja Católica.


Em sua ideologia, organização e ação política, o integralismo pertence aos movimentos e partidos fascistas, que surgiram na Europa entre o fim da Primeira Guerra Mundial e a Segunda. Embora assim como os outros fascismos, tenha se diferenciado em alguns pontos do fascismo italiano. Seus principais líderes foram Plínio Salgado, Miguel Reale e Gustavo Barroso.

A IDEOLOGIA POLÍTICA DA AIB

Os líderes Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale foram os intelectuais que nortearam a AIB quanto aos seus princípios. Ambos tiveram divergências teóricas quanto a alguns pontos, mas foram a partir deles que se formou uma base ideológica comum.

Plínio Salgado (1895-1975) nasceu em São Bento de Sapucaí (SP), esteve na Semana de Arte Moderna de 1922, mas com participação discreta. Escreveu O estrangeiro em 1926 e se tornou membro dos grupos Verde Amarelo e Anta. Foi político, escritor e jornalista. Elegeu-se deputado estadual pelo Partido Republicano Paulista em 1928 e escrevia para o Correio Paulistano.


Miguel Reale, nasceu em 1910 em São Bento de Sapucaí (SP), formou-se em direito pela Faculdade do Largo São Francisco e ocupou os cargos de secretário nacional de doutrina e membro do Conselho Supremo da AIB. Era diretor da revista Panorama, da AIB e foi um dos mais ilustres intelectuais do Direito, o qual escreveu livros também de filosofia. Seus livros, em geral apresentam cunho integralista, antiliberal e anticomunista, girando em torno do tema do Estado.

Gustavo Barroso (1888-1959) nasceu em Fortaleza (CE). Atuava como jornalista, advogado e político, escreveu por volta de 70 livros, entre eles ficção, poesia, teatro, museologia, história regional, do Brasil e história militar. Eleito deputado federal pelo Ceará em 1915, foi representante na Conferência de Paz de Versalhes em 1919. Presidente da Academia Brasileira de Letras. Seu foco ideológico na AIB era o antisemitismo.

O fascismo, de modo geral, apresenta características como: controle exclusivo do exercício da representação política mediante a atuação de um partido único de massa, caracterizado por forte estrutura hierárquica; ideologia centrada no culto à liderança política; exacerbação dos valores da nacionalidade; recusa dos princípios que norteiam o liberalismo individual; oposição radical aos valores do socialismo e do comunismo; exaltação da colaboração de classes e crença no ideal corporativo; atribuição de um papel central ao aparato estatal no plano econômico, social e político; domínio absoluto do Estado sobre as informações e, especialmente, os meios de comunicação de massa; eliminação de qualquer forma de pluralismo político, com o aniquilamento das oposições, embasado na violência e no terror.

Assim como surgiram partidos fascistas ou fascismos na Inglaterra, Bélgica, Portugal, Espanha, México, Chile e Bolívia - todos com suas particularidades -, no Brasil surgiu a AIB, que idealizou todo um projeto para o país.

Entre as características do integralismo, pode-se destacar: movimento de massas de corte nacionalista, antiliberal e anticomunista; o modernismo e o nacionalismo formam os pontos de apoio e sustentação da AIB.

As pequenas divergências entre Salgado, Barroso e Reale colaboraram para uma maior adesão da população à AIB.

Os integralistas apoiaram o governo Vargas no combate ao liberalismo e ao comunismo.

A ideologia integralista deve ser encarada como um voluntarismo totalitário, em que seus integrantes consideram ter a explicação do passado, do presente e do futuro, apresentando idéias que supostamente traz ordem à toda anomalia que a democracia carrega consigo.

Assim como outros movimentos fascistas, os símbolos e as imagens tinham muita relevância. A denominação Ação Integralista Brasileira tinha por objetivo desassociar a idéia de "partido" que é nada mais que o defensor de interesses particulares, assim como o nome e o sistema político democrático e liberal indicam. Por isso o integralismo negava a idéia de representação política, apoiando a mobilização total e submissa da massa ao representante da nação, no caso, ao chefe.

A palavra "Brasileira" da sigla AIB, indica a defesa de interesses nacionais contra os regionais, das oligarquias e contra os internacionais, dos comunistas (ex: PCB).

O termo "Ação" valorizava o culto da mobilização, da força, inclusive da violência, acabando deste modo com o intervalo entre reflexão e prática, tornando-se em um voluntarismo messiânico. Os principais jornais do movimento chamavam-se A Ofensiva e Ação.

"Integralismo" surge de integral, significando totalidade, que se opõe a regionalismos em prol de uma sociedade totalitária. O símbolo do integralismo é a letra grega sigma, de soma, somatória, integração de todas as diferenças, está acima. A saudação era o braço direito esticado e levantado e o grito de "Anauê" (saudação e grito de guerra, na língua tupi, significava "eis-me aqui"). Os membros se vestiam com uniformes militares verdes.


O integralismo sempre promovia a idéia de mobilização, e para isso realizava desfiles minuciosamente coreografados, comícios disciplinados, criavam-se símbolos, palavras de ordem, bandeiras, canções, discursos dramatizados, estandartes, uniformes, insígnias e rituais, que incitavam à ação violenta.

A AIB se apresentava na década de 30 como uma alternativa moderna, um modelo de sucesso, que tinha em Gustavo Barroso, o ideal da luta contra a industrialização e uma defesa da suposta vocação agrária do país. Esse modo de fazer política com hierarquia, marchas e estandartes, se distinguia dos partidos da época da República Velha.

Para Salgado, o indivíduo deve estar sempre subordinado e mobilizado para atender os interesses do Estado. Os indivíduos são avaliados de acordo com a sua capacidade para a luta e para a construção do Estado integralista. Com Barroso, a organização política, de civilização, cultural, de "cooperação entre as raças" não incluía os judeus, que para ele, seriam os responsáveis pela dependência financeira internacional a que o Brasil estava subjugado. O Estado liberal e democrático, de acordo com sua visão, era fraco, desagregador e não defendia os genuínos interesses nacionais, culturais e econômicos. Deste modo, havendo uma "colônia de banqueiros" no país.

A construção deste Estado nacional "puro", começaria buscando-se as origens. Está indiscutivelmente associada ao modernismo, o integralismo, e recebeu forte influência de Euclides da Cunha. Como o romantismo foi uma busca de "brasilidade", a construção do Estado integralista - como os integrantes da AIB achavam que deveria ser - teria a busca deste Brasil "genuíno" no interior do país, no sertão, não no litoral onde existia a influência estrangeira do colonizador.

O conflito social não fazia parte do ideal fascista, pois ele é sinal de sociedade conturbada - caos enxergado por eles nas democracias - e deveria ser eliminado. Desordem é expressão de desagregação, de divisão, por isso deveria ser extirpada com um sistema corporativo rígido, hierarquizado e harmônico. No topo desta sociedade estaria um chefe único, mandante supremo ao qual os súditos deveriam se subjugar. Lealdade é a força motriz desse Estado. Os outros níveis "burocráticos" desse Estado, com seus vários cargos, são criados devido as diferenças "naturais" entre os homens. Plínio Salgado interpreta que os indivíduos devam estar sempre mobilizados para atender os objetivos da revolução.

O integralismo zela para que a cada momento não haja na estrutura social, conflitos, divergências. Por isso "caça" os inimigos da nação, devendo ser identificados e combatidos, em último caso, eliminados. E para eles os inimigos são: o comunismo, a democracia, o liberalismo, o capitalismo internacional, o judaísmo e a maçonaria.

O anti-semitismo assumiu importância central somente com Barroso. Miguel e Plínio não evidenciavam com tanta necessidade este ponto, seus focos estavam no modelo de sociedade a ser construído. Barroso possuía um antisemitismo influenciado pelo catolicismo da extrema direita francesa do séc. XIX e responsabilizava o judaísmo pela ruptura com o idealizado mundo medieval. Para Barroso, a história tem sido controlada por um complô judaico, onde os judeus manipulam os acontecimentos mundiais.

QUEM INTEGRAVA A AIB?

Seus criadores eram praticamente quase todos vindos das classes médias urbanas. Seus principais membros ingressaram pela necessidade de representação política, porque á época, o sistema político da República Velha só beneficiava o eixo São Paulo-Minas Gerais, ou seja, os cafeicultores latifundiários dessa região, enquanto os outros que trabalhavam com outros setores econômicos, não tinham respaldo em situações de inflação, de crise econômica. Os principais membros da AIB eram funcionários públicos (em sua maioria!), profissionais liberais, jornalistas, advogados, médicos, professores, padres, pequenos agricultores, funcionários do comércio, militares, setores não representados pelos partidos políticos existentes até então. O jornal Ação abordou assuntos trabalhistas em suas colunas, porém o partido nunca recebeu significativa adesão operária. A AIB possuía maior aceitação na população até 30 anos. A militância aguerrida dos camisas-verdes nutria simpatias em segmentos das elites políticas e militares. Por seu caráter mobilizante e sua estrutura organizacional à semelhança da corporação militar, possuiu grande ascendência, especialmente na Marinha.

As mulheres representavam 20% dos militantes em 1936 e tinham como lema no Congresso Nacional Feminino (Rio de Janeiro, 1936) e na Convenção Trabalhista (São Paulo, 1937), "Crer, obedecer e preservar". Tinham como funções na AIB: dedicar-se às suas famílias e lares, procriar e educar as crianças para serem cristãs e patrióticas, proteger os lares contra o comunismo e cultivar valores "femininos" como obediência, amor, sacrifício, pureza e espiritualidade, apoiando os maridos na luta a favor da ideologia integralista. Em 1934 fundaram a Ação Feminina Integralista no Maranhão e era formado por 18% dos membros do partido. Elas eram politicamente ativas nas manifestações da AIB.

A especificidade brasileira no caso do Maranhão, se comparado ao fascismo europeu do entre-guerras é que não se limitavam a regiões de muita expressão do movimento operário, foram buscar apoio em um Maranhão pouco industrializado e urbanizado. Obtiveram apoio no Maranhão por causa de seu discurso anticomunista, nacionalista e católico, o que incorreu em apoio de setores da Igreja. Mas principalmente por apresentar uma antioligarquia que poderia combater os coronéis locais.

Mesmo com discurso contra a oligarquia, não procurou incitar esse discurso, buscando alianças nos mais diversos setores da sociedade; à princípio. No ano de 1936 a AIB apoiou a candidatura de um governador ligado a Vargas, selando o acordo de participação na administração pública.

Um ponto de discordância, seria os motivos que levaram a adesão à AIB, por parte dos imigrantes alemães do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Se foram influenciados pela ascenção de Hitler ao poder na Alemanha ou não. Dentre as divergências, a teoria mais plausível é a criada por Gertz, desmistificando a idéia de que a população de origem alemã não teria se "integrado" ao Brasil, mantendo a sua identidade cultural e política vinculada à Alemanha. Gertz procura desvincular essa idéia de associação errônea à questão étnica, para isso, procurou uma outra variável de análise, análise esta que levou em conta a estratificação social e a inserção econômica. Com isso, buscou as relações entre imigração, nazismo, germanismo (entendido como o esforço de preservação de valores e da cultura alemã e defesa dos interesses imigrantes) e o integralismo. Gertz mostra que dados eleitorais de 1935, revelam que a votação da AIB em municípios de colonização foram relativas. Em Novo Hamburgo (segunda maior densidade demográfica depois de Porto Alegre e terceiro no percentual de população urbana), Gertz sugere uma relação maior entre integralismo e urbanização/industrialização maior do que a questão étnica, enquanto que em pequenos municípios, o voto recebido pela AIB era menor - não necessariamente se comparado a outros partidos -, mesmo em núcleos de imigrantes onde a preservação da cultura alemã era maior. Outro ponto a ser considerado, segundo Gertz, é que os germanistas defendiam o ensino do alemão nas escolas de descendentes de imigrantes, enquanto que os integralistas defendiam o ensino obrigatório apenas do português. Gertz conclui que mobilidade social, grau de instrução e nível de informação têm um papel mais importante que a questão étnica, de forma que esta questão não pode ser a única variável a ser considerada como determinante e isolada, onde os focos de análise podem serem mais completos.

Os rituais de "passagem" dos novos membros na AIB desde sua infância começava aos 4 anos de idade, em grupos de 4 a 6 (infantes), depois 6 a 9 (curupiras), 10 a 12 (vanguardeiros) e 13 a 15 (pioneiros). Existiam rituais de obediência ao chefe a partir dos 6 anos de idade. Se comparado a uma criança espartana que ingressava no Exército aos 7 anos, ser preparada na AIB à partir dos 4...! A estrutura de organização era um pré-Estado, um modelo do Estado integral a construir.

A AIB chegou a reunir entre 500 mil a 800 aderentes, para uma população nacional de 41,5 milhões de habitantes em 1935.

A TRAJETÓRIA POLÍTICA

A primeira ação de relevância no cenário político foi em 1933, com uma marcha em São Paulo que reuniu 40 mil adeptos do movimento. Em 1934, Miguel Reale se candidata pela AIB à Assembléia Constituinte. No mesmo ano foram organizadas as "Bandeiras Integralistas" para o Nordeste e Sul do país, por Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale, com a intenção de difundir as idéias do movimento, em que associada a concepção de "bandeiras", surgiam slogans como "a marcha para oeste", aliada a uma "interiorização do projeto integralista".

Ainda em 1934, a AIB organizou seu 1º Congresso Nacional, em Vitória, em que estabeleceram sua estrutura organizacional e seus estatutos, também elegendo Plínio Salgado como chefe supremo e perpétuo. Gustavo Barroso ficou como chefe das milícias integralistas. O movimento se difundiu entre os estados de Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Pernambuco.

Para celebrar o segundo ano de existência da AIB, houve uma briga entre integralistas e militantes do PCB na cidade de São Paulo, que resultou em seis mortos. A AIB cresceu em 1935 após a revolta comunista e se colocou à disposição do governo federal para combater as insurreições comunistas em Natal, Recife e Rio de Janeiro.

Em 1936, no 2º Congresso Nacional, em Petrópolis (RJ), a AIB se tornou um partido político para concorrer às eleições presidenciais em 1938, a qual era prevista. Muda sua estrutura organizacional: cria a Câmara dos Quarenta, um conselho consultivo de notáveis, o Conselho Supremo, com dez membros e a Corte do Sigma, a instância de poder mais importante logo abaixo do chefe nacional. Este ponto do estatuto transforma a AIB em uma estrutura pré-estatal: o Conselho Supremo seria um gabinete restrito em que os ministros seriam os secretários nacionais, a Câmara dos Quarenta atuaria como um senado e a Câmara dos Quatrocentos, formada em 1937 com representantes de vários estados, seria a Câmara Corporativa e a Corte do Sigma a instância suprema, todos regidos por partido único e rígida obediência ao chefe supremo.

Por conta da radicalização política, vários governos estaduais como Bahia, Santa Catarina, Espírito Santo, Alagoas e Paraná, fecharam sedes do movimento.

Em agosto de 1937 um confronto acarretou 13 mortos em Campos (RJ), durante uma marcha integralista.

Na política local, a AIB atuou no executivo e no legislativo de diversas cidades e estados entre 1933 e 1937. Em 1935, elegeu um deputado federal e quatro deputados estaduais. Naquele ano havia 1123 núcleos organizados em 548 municípios e 400 mil ativistas. Nas eleições de 1936, elegeu cerca de 500 vereadores, 20 prefeitos e 4 deputados estaduais, obtendo cerca de 250 mil votos. Nas eleições de 1938, para eleger o candidato do partido às eleições presidenciais, participaram quase 850 mil integralistas, cerca de 500 mil eleitores habilitados, sendo que o eleitorado do país era de cerca de três milhões de votantes. Mesmo que os números sejam imprecisos, eles sugerem a dimensão do movimento e a extensão de sua militância.

Em seguida ao golpe do Estado Novo, a AIB tornou-se uma sociedade cultural. Participou de uma forma discreta deste golpe e em 15 de novembro de 1937, declararam publicamente apoio a Vargas. A insistência em atuar como partido independente influenciou Vargas a proibir sociedades de terem o mesmo nome de partidos existentes. Em janeiro de 1938, Salgado registra o partido como Associação Brasileira de Cultura.

Em 11 de maio de 1938, enquanto Salgado negociava um cargo no ministério com Vargas, aconteceu um golpe contra o Palácio Guanabara realizado por Belmiro Valverde, Olbiano de Melo e Gustavo Barroso, com o apoio de oposicionistas a Vargas como o Euclides Figueiredo, Otávio Mangabeira e José Antônio Flores da Cunha. Resultado: prisão de dezenas de militantes. Salgado foi preso várias vezes até se exilar em Portugal. Barrosos permaneceu no Brasil e, em 1941, renegociou com Vargas um cargo ministerial.