29 de janeiro de 2011

Sonho/Loucura

Relatividade (1953-1962), M.C. Escher

Muito até agora já se foi escrito sobre os sonhos, e até o momento não há um mapeamento definitivo do que seriam as imagens produzidas em nossa cabeça enquanto dormimos. Para falar desse assunto, não posso abordar da mesma maneira como se tem feito nos vários estudos de psicologia, mas se tratando de um modo filosófico, posso relatar fatos e acontecimentos que serão um convite a reflexão a todos os que lerem o que escrevo agora.

Para adentrar no assunto nada melhor que o a imagem acima que upei de meu computador, o meu artista gráfico favorito, Maurits Cornelis Escher. Pensei em ser clichê e colocar um dos quadros mais famosos de Dalí, A Tentação de Santo Antônio, porque ele foi um dos representantes do surrealismo e como o movimento tinha como função expressar o inconsciente e os sonhos através de pinturas ilógicas influenciada pela psicanálise de Freud à época, nada melhor do que seria por a imagem do quadro de Dalí, mas tão bom quanto foi minha idéia de colocar esta imagem de Escher, que representa a Relatividade. Como traçar a linha tênue entre a realidade e a não-realidade (ilusão, imaginação, sonho, como queiram)? Essa linha é frágil e pouco perceptível aos nossos sentidos, não sabemos até onde vai e quando começou. Apresenta a relatividade onde pisamos no campo do real e do irreal.

Vasculhando pela net sem ter o que fazer, por um simples incidente me deparo com um blog de um desconhecido, que adora fazer mistério sobre quem ele é para ver a reação das pessoas. Este homem, nascido nos anos 80 diz em seu blog sofrer de coisas com as quais nunca definiu bem o que era para os seus leitores, no fundo a minha hipótese é de que se trata de um homem que usa de uma história, seja ela inventada ou não, para analisar o comportamento humano, e por mais bizarro que pareça, você vê de atos de compaixão irrefletida à atos de preconceito explícito, pois apresenta comentários excluídos pelo próprio autor do blog e respostas melodramáticas as ofensas. Mas tirando este aspecto particular da vida de um homem que diz ser estranho frente a sociedade, creio que fisicamente também - pois quando fala de si usa um tom meio negativo -, ele apresenta reflexões lúcidas para uma pessoa que diz ter tantos problemas. Alguns destes textos são bons, mas já tinha opinião a este respeito; outros, irrisórios; e, por último, um somente que vale a pena compartilhar com quem ler o que escrevo agora. Em baixo, reproduzo em primeiro lugar a postagem desse cara que se apresenta como Leonardo Levi, com o título Sonhos Acordados e logo em seguida minha interpretação sobre o texto dele, que inclusive fiz questão de comentar em seu blog, onde apresento minha interpretação com alguns cortes, adaptados a quem está lendo o que eu direi aqui e não o que disse lá, mas não pude evitar e nem tive como cortar devidas partes para ficar similar às minhas reflexões que geralmente apresento aqui, que são sem ser por intermédio de terceiros (terceiros: usando textos que outros escreveram sobre determinado assunto para usá-los aqui e contrapô-los). De antemão digo que meus cortes teve como intenção não eliminar o sentido do que havia escrito lá.

Sonhos Acordados

Eu vou contar mais uma coisa sobre mim. Sou absurdamente distraído. Perco todos os meus guarda-chuvas. Esqueço nomes de pessoas, caminhos para os lugares. Perco-me nas direções. Tenho dificuldades para saber qual é a minha direita e qual é a minha esquerda.
E o motivo de tudo isso, eu já sei. Eu fico o tempo inteiro pensando. Qualquer coisa, besteiras mil. Mas na maioria das vezes são histórias. Já escrevi em minha mente umas mil versões da história sobre o que eu faria se ganhasse na loteria. Fico inventando filmes em minha mente. Vídeo-clipes. Invento músicas, imagino que estou tocando determinada música, uma hora eu canto, em outra toco bateria e ainda tenho tempo de sair correndo e pegar na minha guitarra para fazer o solo.
Faço planos enormes, para os próximos 30 anos. Já me imaginei perfeito, governador, presidente, embaixador, presidente geral da ONU... Já imaginei como seria meu programa de televisão. Já idealizei um canal de televisão, uma gravadora na qual só entrariam as bandas que eu gostasse. Imaginei que eu tinha um harém. Imaginei cada uma das 20 mulheres que eu teria. Imaginei detalhes arquitetônicos da minha mansão. Já inventei um bar, um clube, uma escola. Uma reforma educacional para o país. Outra política. E todas faziam um enorme sentido, apesar de saber que nunca dariam certo.
E de tanto imaginar essas mil coisas, na maior parte do tempo eu não estou presente na realidade. Mas isso sempre foi assim, e isso nunca foi um problema tão grande... E claro que já sofri um acidente por que estava desligado enquanto dirigia e já me atrasei por errar os caminhos centenas de vezes... Mas nada disso chega perto das coisas que tem acontecido ultimamente, desde que comecei a ler aquele maldito livro. E o pior é que as coisas pioraram ainda mais desde que comecei a escrever neste maldito blog.
E o pior é que não consigo parar. E a minha própria imaginação está ficando cada vez mais real. Tão real, que às vezes eu prefiro não sair de lá, e ficar imerso em meu mundo, que eu construí para mim mesmo, com todos os meus sonhos. Com todas as coisas no lugar, pessoas fazendo exatamente o que eu quero.
Mas aí eu acordo e percebo que tudo é diferente. Eis o presente mais irônico já dado pelos deuses. Tua consciência. Com ela és capaz de brincar de ser Deus. Pode criar um universo inteiro, do jeito como bem entender. Mas jamais poderá esperar que as coisas do mundo concreto obedeçam a seus anseios, por que, na maioria das vezes não obedecem. As vezes o que elas fazem é contrariar totalmente. Parece até que é de propósito.
E é quando você fica puto com o autor invisível que escreve a história da tua vida. Por que você não queria que fosse assim. Você consegue sempre imaginar um final melhor para a história que ele está inventando, pelo menos quando é você mesmo o personagem. Mas aí você se pergunta... Se os personagens escrevessem a própria história, teria alguma graça?

Até então quem lê acha que é uma história normal, comum como as outras... um doido que vive fora da realidade. Mas antes de você ler a minha opinião sobre o que o suposto Leonardo Levi (desconfio que o nome dele não seja este, pois no blog a foto é de outro, um cara famoso) quis ao escrever esta história, leia ela denovo quantas vezes for necessário se precisar, libere a sua mente, sua criatividade reprimida para buscar atrás do que tem de superficial em um texto aparentemente simples. Não busque raciocinar em cima do desejo dele das coisas serem como ele quer e não acontece porque ele não controla a vida dos outros, busque algo além. No próximo parágrafo virá minha interpretação do texto.

Antes de expressar meu comentário que fiz, vou relatar a minha experiência com os sonhos que tive, e que complementará a minha reflexão, já que a do L. L. está compartilhada acima, uma dentre algumas que ele tem. E como disse no início, é uma experiência quase empírica, mas filosófica.

Até hoje, posso dizer que eu tenho controle consciente dos meus sonhos, chego ao cúmulo de decidir por vontade própria o que farei, e não assistir somente ao sonho como um espectador sabendo que estou sonhando. Comparado com antigamente, no meu sonho eu não sabia que estava sonhando. O que eu chego a fazer de "anormal", ou melhor dizendo, sabia fazer, era ter consciência de que eu dormia e com isso CONSEGUIA acordar do sonho antes da hora, quase na hora que eu quisesse, pois na maioria das vezes antes de eu conseguir fazer isso, eu tentava mas não conseguia acordar, continuava constantemente apavorado pelo pânico do pesadelo, até o susto ser grande demais e finalmente acordar. Mas o único modo que possibilitava eu fugir do sonho, acordar, era mentalizar no próprio sonho uma régua no chão, que geralmente tinha 15cm, não sei porque este tamanho, mas só acordava por este meio, e às vezes demorava 1min ou 1min e meio para conseguir mentalizar a régua forçosamente. Pra qualquer um é complicado mentalizar o rosto de uma pessoa que não vê mais a tempo com a mesma perfeição quando a encara de frente! Tem anos (4 ou 5) que não consigo mais fazer esta façanha, o que é uma pena.

Tenho até hoje dúvida quanto à pesquisas feitas e comprovadas que dizem que todos os dias nós sonhamos. Como posso sonhar e não lembrar o que sonhei em alguns determinados dias? Está certo que nós não lembramos dos nossos sonhos depois de algum tempo, mas será tão rápido que em alguns dias no momento seguinte ao acordar não me lembro mais o que sonhei??

Outro acontecimento que me toma de preocupação, mas somente quando acontece, pois não costumo ligar para fatos extras para não me tornar paranóico como muitos, é o fato de que algumas vezes em um pesadelo forte, eu acordo com falta de ar monstruosa, chego inclusive a disparar o coração a 1000, e que tenho a impressão depois que recobro a calma, é de que se eu não acordasse naquele momento eu iria morrer de enfarte de parada respiratória. (?). Bem, esta foi a verbalização mais próxima do que sinto, uma mistura de enfarto com falta de ar violenta. Sei que isto não tem a ver diretamente com sonhos, mas estou sonhando (tendo pesadelo) enquanto sinto começar estes ataques ruins. Mas não se preocupem, sei que não se trata daquelas doenças conhecidas que a gente vê pela televisão e que temos que usar uma máscara de ar hospitalar, isso porque este acontecimento não aparece com frequência e porque em minha sã consciência sei que tem a ver com o pesadelo, só não sei o motivo ao certo. Por este motivo também além do primeiro apresentado, relatei aqui, pois apresenta relação, ligação com os sonhos.

Agora sim, embaixo virá o meu comentário.

Engraçado esta postagem ter relação com uma mais posterior que escreveu sobre o filme Cidade dos Sonhos (no original: Mulholland Drive) dirigido e produzido por David Lynch. Tratando-se de sonhos, querendo ou não, cientistas desconhecidos para mim, mas famosos no mundo científico afirmam que o estado da pessoa querer dormir até mais tarde e continuar sonhando, se em doses não precavidas e constantes, pode representar perigo à sanidade mental da pessoa, pois se trata da fuga da realidade, porque ela já está num estágio em que SEM PERCEBER acha melhor continuar sonhando do que acordar, sem perceber porque pra pessoa, isso é aparentemente nocivo. Os cientistas dizem que isso é sinal de que a pessoa confunde o que é real do que não é real, tende a achar que uma determinada ação sua ou interpretações suas são ditas "normais", ou seja, não percebe que as loucuras que sonha ou que deseja não acontecem, é como aquele que usa droga como fuga da realidade, dos seus problemas pessoais. Então, a pessoa que gosta de sonhar em demasia vive num mundo que não obedece ao seu padrão de comportamento. O que o torna louco. Em termos mais fortes o preconceituoso diria: "depravado, insano, doente" etc. O que discuto aqui não é a sanidade ou que/quem é normal ou qual padrão seja correto, até creio que um louco ou outro às vezes seja menos animal ou irracional ou doido do que uma pessoa dita "normal". Foucault, Thomas Stephen Szasz entre outros que estudaram neuroses e sistemas psiquiátricos me ajudem nesta hora, mas há loucos que são mais normais do que muita gente considerada normal. O louco não mata por poder, um psicopata (não todos é claro) não mata sem um motivo que para ele é lógico e cabível. Não entrando no mérito da questão, os cristãos mataram pessoas por motivos absurdos, seguindo seus conceitos éticos e morais, que eles mesmos criaram, seja por crença ou por poder, domínio sobre os outros.
Como eu disse antes, esse seu texto entre os de 2008 para mim é o mais significativo, diferentemente do que Paule disse ao falar: [...] "Eu falo (mas não creio) que, a mente, que é você, a minha mente, sou eu, é um todo criador que vive no subconsciente, o nosso mundo real, indivídualista (ele pontuou feio ai), cada um com o seu.
Você mesmo disse, quantas coisas que criou, e que poderia ser Deus... (nota: Paule é um punk anarquista) por que não ser? Você cria algum ser e dá vida à ele no seu subconsciente, seu mundo real, onde sua mente (você) está. [...]". Creio você em nenhum momento ter falado sobre Deus, mesmo tendo usado a palavra Deus - posso estar enganado -, mas sim tenho quase certeza que você escreveu relacionando seu desejo de que as pessoas agissem de tal maneira, mas quando você observa como sua vida caminha, não obtendo o final esperado, fica puto com os rumos que sua vida toma, seja por destino, acaso ou vontade própria. O que torna o fim de seu texto bem mais esculpido, ao por culpa à quem escreveu sua história. Ao mesmo tempo concluindo com o fim brilhante de que é melhor deixar as pessoas tomarem suas próprias decisões, por mais arbitrárias e por mais que você discorde delas, simplesmente aceitando como elas são e não tentando mudá-las, pois elas serão assim mesmo, diferente do que você quer, do que você deseja. A maestria que está embutida em seu texto se encontra ao se perguntar: "Se controlássemos como as pessoas agiriam conosco e com os outros, o mundo teria alguma graça?". Pois os personagens no fundo são autores de sua própria história. A relação entre uma sentença e outra em seu texto está em primeiro querer manipular seus acontecimentos a sua volta; depois se queixar de como sua vida está sendo "manipulada", negando a primeira sentença, ou banindo-a por exclusão, e, por último deixando de dar palavra ao personagem para dar palavra ao autor. Mas neste mundo de sonhos em que cada um é sonhado, e em sua metáfora o autor também é um personagem por também ser sonhado, o personagem não deixa de ser um autor, pois o autor quando era autor sonhava como os seus personagens agiriam, inclusive você mesmo:
"E a minha própria imaginação está ficando cada vez mais real. Tão real, que às vezes eu prefiro não sair de lá, e ficar imerso em meu mundo, que eu construí para mim mesmo, com todos os meus sonhos. Com todas as coisas no lugar, pessoas fazendo exatamente o que eu quero."

O texto de Leonardo Levi, por mais simples que aparente ser, foi bem escrito, digno de uma pessoa que aprecia a arte surreal de David Lynch.

Como eu havia dito a pouco, ele (Leonardo Levi) deve estar manipulando, fazendo um joguinho com seus leitores de atos benevolentes para estudar o comportamento humano, isso porque constrói um texto em que aparentemente fala sobre um lunático que vive fora da realidade, aquele que a sociedade preconiza e julga mas no fundo só escreveu uma sentença que tem um outro fundo por trás, mas com a intenção de ler palavras que inclusive li em seu blog: "desabafe", "posso ajudar", "escreva mais, gosto de seus textos" (este último na verdade, gosta de ver novela da vida real), entre outras coisas. Gosta de fazer um experimento humano. Eu mesmo confesso que gosto disso também, mas não chego a contar estas histórias meio escabrosas, não uso desse método. Eu sou capaz de convencer uma pessoa de que tenho 27 anos mesmo só tendo 22 e não aparentando nem de longe 27. A pessoa crê numa facilidade extrema, basta eu querer. Sou bom o bastante para com a lábia enrolar alguém, uma mulher ou uma pessoa de que aquilo que ela ganhou (objeto material), será mais útil em minhas mãos e que você deve me "presentear" (dar) seu objeto material que me interessa. Hoje em dia não me utilizo desses métodos, até porque já disse em postagens mais antigas que gosto de discutir idéias pela maiêutica ou por raciocínio lógico ou somente pela opção de uma nova filosofia de vida que escolhi em minha vida, para mim. Escolha não significa somente copiar o que já existe, mas criar.

O motivo de por o texto dele? Porque querendo ou não, sendo real o sentido ou motivo dele escrever ou não, ou ser somente um relato de sua vida, ele sabia que escrevendo algo como dizer que ele é um nerd ou alguma outra coisa, que vive em outro mundo e foge da realidade chama a atenção. E principalmente porque ele sabe que existem pessoas assim, então convencer pessoas com fatos verídicos, que sabemos que existem casos assim, é mais fácil do que os criados (possivelmente não reais se muito inventivo, mirabolante). E como se trata de um caso em que existem pessoas assim, esses nerds de que falei agora pouco e que a sociedade discrimina, postei este texto como mais um caso de Sonho/Loucura de que trata o tema desse meu escrito.

Ahh, e como não tenho noção de como classificar o que escrevi agora, marcarei como Filosofia, apesar de os outros marcadores como Religião, Arte, Política, Ideologia e tudo o mais estar embutido na Filosofia, a mãe de todas as ciências. Colocarei Filosofia por falta de imaginação no momento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.