19 de setembro de 2010

Fundamentalismo x Fundamentalismo Mascarado (Parte III)

Última parte do post Fundamentalismo x Fundamentalismo Mascarado...

Considero mais importante do que ler obras de anarquistas que se envolveram em lutas e em conflitos políticos ou de simpatizantes do movimento, ler obras de historiadores que escreveram sobre o movimento, principalmente se este historiador for um anarquista. Mas por qual razão? Porque o historiador utiliza o método científico (método historiográfico) para desmistificar assuntos que as pessoas geralmente caem no erro, como achar que a Guerra de Secessão nos E.U.A. aconteceu para abolir a escratura, quando era para unir o Norte e o Sul, e para isso, se fosse necessário a abolição da escravidão, se faria, se fosse necessário a permanência da escravidão, também se faria a permanência. Os mesmos "mitos" acontecem em relação a Revolução Mexicana, na Proclamação da República no Brasil. É o historiador que estuda o atual estado da arte de um determinado assunto. Por estado da arte, pode-se entender que são as condições atuais sobre um estudo, é até onde a ciência chegou a um conhecimento sobre aquele tema, descobrindo até então o que não era verídico do que foi, se aproximando cada vez mais de uma verdade. Essa precaução serve também para evitar que trabalhos produzidos sejam considerados como plágio, para justamente a pessoa não estudar coisas que já se chegaram a uma determinada conclusão e sim produzir outros conhecimentos novos sem perda de tempo e dinheiro. Ainda assim podem me perguntar se não é pior ou se não seria mais cauteloso ler um livro de um historiador que não seja anarquista a fim de evitar as opiniões e preconceitos de uma pessoa movida por suas paixões sobre o movimento anarquista. Posso afirmar com convicção que o melhor a fazer é ler sobre um historiador anarquista, porque ambos são movidos por paixões, o historiador que estuda sobre este assunto mas que não é anarquista também emite juízos de valores movida por suas paixões e preconceitos, não existe historiador que passe uma vida inteira estudando e se especializando em um tema específico que não seja movida a estudar aquele assunto que mexe com a sua cabeça, com o seu íntimo (não que eu conheça, alguém conhece?). Ainda assim, é completamente diferente ler um historiador anarquista movido por suas paixões e ler um anarquista movido por suas paixões que escreveu sobre o anarquismo, que não se pauta em métodos e bases científicas e não faz uso documentos de época como tanto os documentos atuais e as mais novas fontes historiográficas descobertas sobre este tema.
 
 

Por estes motivos vou indicar um último autor anarquista que foi historiador e arquivista. Foi conhecido pelo seu pseudônimo de Edgar Rodrigues, nascido em Portugal e radicado no Brasil em 1951, após fugir da perseguição ditatorial de Salazar em seu país. Seu nome verdadeiro é Antônio Francisco Correia, nasceu em Angeiras na data de 12 de março de 1921 e morreu no Rio de Janeiro no dia 14 de maio de 2009. Principalmente por ter vivido seus últimos dias de vida na nossa época, e por nos sentirmos mais identificados com o que não nos é estranho em relação a espaço e tempo, que indico para leitura todos os livros desse ativista. Cito agora as obras que ele escreveu em vida:
  1. Na Inquisição de Salazar (1957);
  2. A Fome em Portugal (1958);
  3. O Retrato da Ditadura Portuguesa (1962);
  4. Portugal Hoy (Venezuela) (1963);
  5. Socialismo: Síntese das Origens e Doutrinas (1969);
  6. Socialismo e Sindicalismo no Brasil (Movimento Operário 1675/1913) (1969);
  7. Nacionalismo e Cultura Social (1913-1922) (1972);
  8. Violência, Autoridade e Humanismo (1974);
  9. Conceito de Sociedade Global (1974);
  10. ABC do Anarquismo (Lisboa-Portugal) (1976);
  11. Breve História do Pensamento e das Lutas Sociais (Lisboa-Portugal) (1977);
  12. Trabalho e Conflito (Greves Operárias 1900-1935) (1977);
  13. Novos Rumos (1978);
  14. Deus Vermelho (Porto-Portugal) (1978);
  15. Alvorada Operária (Os Congressos 1887-1920) (1980);
  16. Socialismo: Uma Visão Alfabética (1980);
  17. O Despertar Operário em Portugal (1834-1911) (1980);
  18. Os Anarquistas e os Sindicatos em Portugal (1911-1922) (1981);
  19. A Resistência Anarco-Sindicalista em Portugal (1922-1939) (1981);
  20. A Oposição Libertária à Ditadura (1939-1974) (1982);
  21. Os Anarquistas - Trabalhadores Italianos no Brasil (1984);
  22. Os Trabalhadores Italianos no Brasil (Itália) (1985);
  23. ABC do Sindicalismo Revolucionário (1987);
  24. Os Libertários: Idéias e Experiências Anárquicas (1988);
  25. Quem Tem Medo do Anarquismo? (1992);
  26. O Anarquismo na Escola, no Teatro, na Poesia (1992);
  27. A Nova Aurora Libertária (1946-1948) (1992);
  28. Entre Ditaduras (1948-1962) (1993);
  29. O Ressurgir do Anarquismo (1962-1980) (1993);
  30. Os Libertários (1993);
  31. O Homem em Busca da Terra Livre (1993);
  32. O Anarquismo no Banco dos Réus (1969-1972) (1993);
  33. Os Companheiros - 5 volumes - de A a Z (1994);
  34. Diga Não à Violência! (1995);
  35. Sem Fronteiras (1995);
  36. Pequena História da Imprensa Social no Brasil (1997);
  37. Os Companheiros (1998);
  38. Notas e Comentários Histórico-Sociais (1998);
  39. Pequeno Dicionário de Idéias Libertárias (1999);
  40. Universo Ácrata - Vol.1 e Vol.2 (1999);
  41. Biblioteca Sorocabana (Vol.1 - História e Memória) - teve participação (2005);
  42. Rebeldias (4 volumes, 2005-2007);
  43. Um Século de História Político-Social em Documentos (Vol.1 e 2 - 2006 e 2007);
  44. Lembranças Incompletas (2007); e,
  45. Mulheres e Anarquia (2007).
Uma extensa lista que evidencia a pequenez de quem quer se achar mais entendido do que o outro sobre anarquismo, de quem quer se achar o monstro intocável em relação a anarquismo. Isso também vale para comunistas e afins. Se uma pessoa do naipe de quem se acha o maioral conversasse com Edgar Rodrigues, logo baixaria a bola frente a ele, se sentiria uma criança indefesa. E isso porque só foi falado de obras que estudam profundamente o anarquismo no Brasil e em Portugal!! Mas também há obras em um contexto geral no mundo, observe e verá elas entre a lista que citei.
 
 

Caso queiram conhecer mais sobre a biografia do historiador anarquista Edgar Rodrigues, acessem o site do Sindicato de Artes e Ofício Vários de Campinas abaixo:
Agradeço aqueles que leram esses três posts sobre Fundamentalismo x Fundamentalismo Mascarado por inteiro. Comentários nos três posts são bem-vindos!

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